sábado, 1 de junho de 2013

Pimenta nos olhos dos outros é justiça!!

O que nos caracteriza como seres humanos e nos difere dos demais primatas é a nossa capacidade de refletir sobre algo e nos colocar no lugar de outros para formamos nossa opinião e balizarmos nossos atos e atitudes. Toda vez que abrimos mão dessa dádiva e nos pronunciamos sem pensar a respeito de um assunto, nós acabamos por nos aproximarmos da bestialidade e da idiotice, e quando isso se torna um senso comum nos tornamos uma sociedade à beira da barbárie. É praticamente de, comum acordo em nossa sociedade que as instituições públicas não nos representam (por nossa própria culpa, mas isso é outra discussão) e a justiça não é diferente. A impunidade reina e sabemos que os piores marginais que ameaçam nossa sociedade não são punidos como deveriam ser por nossa justiça, ao contrário, quando são presos tem tantos recursos ao seu favor que logo são soltos e muitas vezes antes mesmo da dor de suas vítimas ser ao menos amenizada pelo tempo. Isso gera um sentimento de desejo que a justiça seja feita de outra forma, afinal “bandido bom, é bandido morto”. Confesso que por mais bárbaro que seja, devido a algumas experiências pessoais, não penso muito diferente. Mas, nos últimos dias vivemos uma discussão acalorada sobre um fato acontecido no Rio de Janeiro. Policiais civis do alto de um helicóptero alvejaram e mataram com tiros de metralhadora um conhecido e procurado traficante em uma das muitas comunidades dominadas pelo tráfico da cidade. Esta ação foi questionada pelo ministério publico e alvo de inquérito na corregedoria da própria polícia. Há inúmeras manifestações em redes sociais e nas ruas de pessoas indignando-se com o fato de estarem questionando a ação, afinal punir os policiais porque mataram um traficante? Que absurdo é este? Afinal, era um bandido sanguinário e não merecia outro destino que não este. Novamente, mesmo sendo politicamente incorreto, tenho que concordar com as afirmações, para mim o destino deste tipo de ser é o encontro de um projétil no seu peito. Mas, eu duvido muito ( e assim espero) que as pessoas que estão defendendo esta ação da polícia e declarando estes tipos de frases tenham em algum momento agido como seres pensantes, inteligentes ou reflexivos, e refletido sobre a verdadeira questão neste fato. O problema nesta ação não é o fato de terem matado um traficante, e sim tê-lo feito de cima de um helicóptero, atirando com uma metralhadora em um carro em movimento no meio de uma comunidade com dezenas casas e colégios, onde habitam não favelados, como se estes fossem uma classe mais descartável de seres, mas sim cidadãos iguais a mim, a presidenta Dilma, ao rei roberto Carlos, aos familiares dos policiais e a você. Pare um instante se imagine passo a passo da narração a seguir. “ Acaba de “dar no rádio”, perigoso estuprador e assassino de crianças é morto pela polícia... O bandido foi perseguido e se escondeu em uma escola, entretanto policiais trocaram tiros com ele e o alvejaram... durante o tiroteio uma criança foi atingida por uma bala perdida...neste momento seu telefone toca, é da escola de seu filho, a diretora esta informando que ele foi atingido no peito por um tiro durante um tiroteio entre um bandido e a polícia. Se você foi se imaginando na situação e acompanhando cada fato, aposto que sentiu uma mudança gradativa de sentimentos, da alegria ao desespero total. Pois bem, reflita. Valeu a pena pagar com o preço da vida de seu filho a morte de um bandido como este? Você preferiria que a polícia o tivesse deixado escapar naquele momento para depois tentar pegá-lo em um momento mais seguro, ou o seu filho foi só um efeito colateral afinal “não se faz omelete sem quebrar alguns ovos”. Agora me responda, o que te faz pensar que as pessoas que estavam em suas casas, nas ruas ou escolas durante aquela perseguição ao traficante tem menos direito a vida que você, seu filho ou familiares? O que te leva a pensar que policiais podem do alto de uma aeronave usar uma metralhadora, que é uma arma sem muita precisão, disparar centenas de tiros que atingem diversas casas e escolas como a cena mostrou, colocando em risco a vida de centenas de seres humanos de bem para capturar vivo ou morto um traficante? Será que você apoiaria que fizessem isso em cima da sua casa, da escola de seu filho, na rua onde seu esposo ou sua mulher está passando? Aposto que não. A principal função da polícia em qualquer lugar do mundo é proteger o cidadão, é um preceito básico e primordial, ainda que para isso tenha que usar a força contra algum mal feitor, mas nunca botar em risco ela própria a vida de dezenas de pessoas para cumprir uma missão. Será que é essa polícia que nós queremos? Não se esqueça que ao dizer que sim você está assumindo o risco de levar um tiro ou algum ente querido, para que a polícia possa prender ou matar algum marginal e admitindo que isto é algo aceitável que é um preço que temos que pagar. Devemos pensar pelo menos um pouco antes de “curtir”, “compartilhar” algumas opiniões, pois, não só os moradores de “comunidades” estão sujeitos a isso, pessoas como você também podem estar em casa e ter uma chuva de balas entrando por sua janela ou atingindo a escola de seu filho. Será que se esta operação tivesse acontecido na zona sul, por exemplo, e atingido alguém que passava pela rua, todos iriam apoiar os tiros dos policiais no traficante sem ao menos pensar nas pessoas que estavam em volta. Para mim os que apoiam este tipo de ação ou não estão refletindo de uma maneira mais ampla falando sem pensar munidos apenas do desejo de justiça, ou não tem o menor respeito pela vida alheia achando que moradores de favelas (ops! termo politicamente incorreto) podem ter suas casa metralhadas, invadidas e seus filhos mortos nas escolas como se fossem menos humanos que o resto da sociedade.

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